O homem voltava para casa após uma longa jornada laboriosa. Pensava no sentido de sua existência, sem conseguir raciocinar tranqüilamente pois, junto ao movimento do ônibus, também era incomodado pelo empurra-empurra das pessoas ao seu redor, as quais procuravam acomodar-se de qualquer forma.
. Refletia sobre aquela vida enfadonha e sem rumo, a qual não podia passar sequer um dia sem aborrecimentos e frustrações. Desejava "chutar-o-balde" e abandonar tudo de vez; fugir para um local onde ninguém o conhecesse, começar uma vida nova, alimentando-se do fruto produzido por si próprio, sem preocupar-se com a parte de seu salário retida para o sustento de alguma empresa.
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Ao chegar em casa, não notou a mulher o abraçando carinhosamente, esboçando um sorriso daqueles verdadeiros, somente expressados por pessoas íntimas do amor. Ela preparou-lhe e serviu-lhe a comida, mas mesmo assim ele continuava com o olhar distante, como quem não sabe como resolver um problema, ambicionando a qualquer custo a solução.
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É neste momento em que surge sua filha, do nada, com aquele ar meigo de um anjo. Sentou-se em seu colo, sendo recebida não com aquele ar amoroso próprio de um verdadeiro pai. Afinal, ele estava concentrado na saída para que seu ego pudesse satisfazer-se.
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O homem pensou em descer a filha do colo, e pedir-lhe que não o incomodasse. Quando já abria os lábios para dizer-lhe algumas ásperas palavras, estas foram impedidas por um abraço carinhoso, onde a garotinha dizia do amor sentido para com ele, e mesmo que ele não pudesse estar todos os momentos do dia com ela e sua mãe, ela pensava nele durante todo o transcorrer do dia; e quando batia aquela saudade, que não podia ir embora com uma ligação para seu serviço, expressando-lhe de longe o carinho, ela escrevia algumas cartas, desenhando e dando cor à ternura expressada em poucas linhas no papel. Desceu então do colo do pai, às pressas, foi correndo ao quarto e buscou algumas folhas dobradas e inseridas em um envelope, entregando posteriormente ao pai.
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Ele, já com os olhos úmidos e lábios trêmulos, diminuído a um grão de pó pela mesquinhez com que pensara em abandonar tudo e seguir sua própria vida, pegou levemente o papel, como alguém querendo pedir perdão sem encontrar as palavras após brigar sem razão. Viu logo no envelope algumas palavras carinhosas, circundadas por vários corações coloridos com esmero. Quase podia sentir pelo tato o amor empregado naquelas mal traçadas. Esqueceu-se por um momento da ira que o acompanhava durante o trabalho. Abraçou a filha, chamando também a esposa. Deu-lhe também um beijo, proferindo algumas palavras delicadas, sem preocupar-se em esconder as lágrimas teimosas por rolar de seu rosto.
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Finalmente entendeu que ninguém caminha sozinho na vida e, por mais que tudo pareça estar perdido, sempre há uma oportunidade de recomeçar. Basta simplesmente perceber aqueles ao nosso redor, nos amando, impulsionando, e exteriorizando estes sentimentos em gestos inexprimíveis em forma verbal, mas inteiramente reconhecidos pela nossa alma, e tudo volta ao normal.
Continue assim, quanto mais escrevemos mais temos vontade de escrever e, aumentamos cada vez vez mais os nossos conhecimentos e habilidades.
Um grande abraço.
Nunes