Conhecimento e sabedoria


"A ironia é própria do intelecto apurado". Esta foi a primeira frase captada pelos meus ouvidos, quando entrei na classe de Filosofia Contemporânea. O mestre explicava sobre um certo acontecimento, quando da sua época de graduando.
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Imediatamente uma série de imagens saíram de suas respectivas gavetas, em minha memória, fazendo-me recordar fatos e feitos onde tencionava, eu, expandir meus horizontes intelectuais.
Não que não queira, ainda hoje, expandí-los. Só não mais ponho isto como prioridade em minha vida. Ao menos não neste momento.
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A frase primacitada foi como uma chave a abrir estas gavetas. Encaixou-se perfeitamente. E as imagens refletiam meus momentos de superioridade, nos quais alcançava o topo do prestígio escolar. Ser exaltado, elogiado pelos mestres era como igualar-me a eles. Sensação predominante de uma capacidade de poder dominar o mundo.
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Ao estar prestes a graduar-me, considero isso tudo, essa tal vaidade intelectual como um lixo, uma perda. Como tal, armazena-se em nós, apodrecendo e fazendo-nos apodrecer.
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Como algo tão intocável - o intelecto -, pode fazer de nós tão mesquinhos, quando mal cuidado? Afinal, parece sabermos muito. Isso quando nos comparamos unicamente a nós mesmos. Mas, e diante do Universo, qual o valor daquilo que imaginamos conhecer?
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Nada mais fazemos do que pensar o que já foi pensdo. Novidade? "Nihil sub sole novum". O que pensavamos ser inédito, não passa de simples ligações, conexões de simples fatos, releituras de eventos, "insights". Somente temos a sorte de pensar a coisa certa em seu momento certo.
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É como termos, diante de nós, vários quebra-cabeças. Fatos elencados, concatenados, encaixados, mas separados entre si. O conhecimento é como encaixar estes fatos, e torná-los assimiláveis. Um processo semelhante ao dialético, onde teses, relacionadas às suas respectivas antíteses, geram sínteses. Sínteses. Nada mais do que releituras daquilo que já estava às mãos.
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Afinal, filosofar nada mais é do que pensar o mais absurdo, o mais simples, mas de uma forma com a qual os mais soberbos, em sua vaidade, jamais pensariam.
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O único problema está no fato de o filosofar trazer consigo esta mesma possibilidade de soberba, de vaidade.
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O sábio reconhece o húmus que é o seu pensar, sabendo que nada é, e nada pode ser. O filósofo vaidoso, no entando, tudo pode ser. Menos sábio.

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