O homem de um só pensamento


Na lógica da contemporaneidade (a da velocidade), da rapidez com que as informações nos chegam, dos resumos obtidos para se ter uma noção do geral, perdemos aquela construção necessária para a formação do nosso eu. Quando nos atemos ao básico de um todo, perdemos a visão justamente deste todo. Por isso temo o homem de um só pensamento. Este busca os resumos, e não a completude; busca as respostas, e não os questionamentos. Faz sua própria e inquestionável interpretação acerca daquilo que se lhe apresenta. Firma-se em uma idéia fixa de alguém, considerando-a única, verdadeira, indissolúvel, incorruptível. Fecha-se a outras idéias. Fecha-se, ainda que inconscientemente, ao outro.
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Quanto mais busco aprofundar-me naquilo que não sei, mais torno-me consciente de minha ignorância, e mais desejo saber. Quanto mais aprofundo-me em um pensamento, mais me conscientizo de que a idéia antes formada acerca deste, estava incompleta. Isto porque ainda não eram por mim conhecidos outros termos, conceitos, idéias e formas de pensar. Quanto mais conheço novos termos e seus respectivos significados, mais os percebo se encaixando e completando vários outros conhecimentos antes adquiridos por mim. A partir destes momentos vejo o quão valorosa é a busca pelo real significado daquilo que chega às nossas percepções.Refletir sobre os significados adquiridos pelos termos em nosso ser é algo de suma importância. Ao discursar sobre algo, posso ter em mente uma série de símbolos e significados mas, quando estas palavras chegam à outras consciências, podem percorrer outros caminhos, vestir novas roupagens, adquirir outras formas.
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Isto porque a construção lingüística depende de todo um percurso já traçado por nossa subjetividade. Temos, em nosso intelecto, como que uma "caixa preta", onde ali são armazenadas todas as informações captadas e abstraídas de nosso quotidiano, desde quando nascemos. Se estes conteúdos não são pareados a outros, de outras consciências, confrontados de forma a buscar uma síntese eterna que vise sua completude, perdemos a nós mesmos. Perdemos o outro e perdemos aquilo que devemos respeitar, porque nos une: nossa história e nossa língua.
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Se em todo processo pelo qual a humanidade passou, foram construídas novas formas de pensar, sempre erguidas sobre outras, anteriormente propostas, por que hoje nos fechamos em nossos conceitos, em nossas formas de raciocinar? Por que tememos ser confrontados pela idéia do outro? Ou pior, por que ignoramos esta mesma idéia que o outro tem a nos oferecer? O que teríamos a perder, caso a assimilássemos? não teríamos muito mais a ganhar? Assumindo a Teoria do caos (o qual afirma que um mínimo movimento/mudança, interligado a outros, causa efeitos que antes não poderiam ser previstos e estes efeitos, em sí, não existiriam se não dependessem de cada mínimo movimento), da mesma forma acontece com o nosso CONHECER.
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Cada mínimo movimento gerado em nossa consciência pode ligar-se a outros fatores antes já elencados e abstraídos, tornando-os mais inteligíveis, proporcionando a ligação destes a outros fatores que em cada átimo surgem ao nosso redor. Cada ínfimo pensamento, cada palavra bem refletida e bem dita pode causar uma revolução não só em nosso intelecto, mas em toda a estrutura de idéias e ideais na qual estamos inseridos.
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Assim, uma vez despojado de minhas certezas e colocando minha consciência em contato com o mundo, torno-me senhor de minha vida e história; deixo de ser um-no-mundo para ser um-com-o-mundo e torno-me capaz de mudar não só a minha vida, mas todo o curso de uma história. Mudança que depende de mim, de toda construção que faço, e de cada construção que o outro faz.
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Temo o prisioneiro de suas certezas; Este permanece sempre igual ao que sempre foi. Admiro o homem de abertura, pois é capaz de aceitar novas idéias e reconhecer novos horizontes. Sigo o homem livre, pois é senhor de si e de suas escolhas, e está em constante desenvolvimento.

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