Lar, doce(?) lar!


Certa vez ouvi uma história da qual me recordo bem o conteúdo até hoje. Era sobre uma senhora de idade, cujos dias passava a maior parte sentada no banco da praça principal da cidade, por onde tanto quem chegava quanto quem de lá saía, sempre passava.
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E sempre chegavam pessoas até ela, perguntando-lhe como era residir naquela cidade. Geralmente, quem desejava alí morar, lhe fazia esta indagação. Afinal, uma senhora que passava seus dias no ponto principal do lugar, certamente conhecia a todos e cada um.
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Antes de responder, a sábia senhora perguntava aos forasteiros como era o lugar de onde vinham.
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- Horrível! Graças a Deus estou saindo de lá. Muita inveja, fofoca e um povo arrogante, mesquinho. Quero que todos de lá se danem!
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A respostas como esta, a senhora replicava:
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- Hum, então esta cidade não é lugar para você. Aqui tem os mesmos problemas, e até piores!
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Isso fazia com que os viandantes desistissem de ali firmarem moradia. Mas havia também aqueles os quais respondiam de outra forma:
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- Tenho dó de ter saído de lá. Fiz muitas amizades e deixei boas marcas. Se saio, o faço sem escolhas, e de coração condoído. Minha vida está lá!
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- Não se preocupe - respondia a senhora. Aqui a vida é ótima, as pessoas pacatas, e muito acolhedoras. Em pouco tempo se sentirá em casa.
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Esta história se fez presente em minha mente enquanto estava eu sentado aqui, diante do computador, e ouvi um grupo de padres, aqui no seminário, cantando antes do jantar. Por vezes, parece que o local onde estamos, seja ele qual for, não é compatível com nosso modo de ser. As pessoas ora parecem amargas, sem entrosamento, impassíveis de uma aproximação. A vontade de se afastar desses locais torna-se grande. Mas em outros momentos temos diante de nós certas pessoas que fazem com que tudo valha a pena. Nos fazem entender que, de fato, o ambiente onde estamos, não é construído pelos outros, mas única e exclusivamente pelo nosso próprio modo de agir e pensar. Se o local onde estamos não é por nós considerado como bom e aconchegante, dificilmente faremos com que o seja. Mas, do contrário, se apesar das diferenças - e de fato, ninguém é igual- pretendermos mostrar-nos como somos, e abrirmos caminho para diálogo e convivência, qualquer lugar, por mais longínqüo que seja de nossa realidade e gosto, poderá ser chamado de lar.
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O lar não é o lugar que nos faz sentir bem por sí próprio. O lar é o ambiente - tanto interno quanto externo - o qual damos nossa cara, fazendo-o tornar-se agradável a nós, por nossa conta. Ele não é algo que esteja fora, mas sim aquilo de nós que podemos levar para onde quer que formos.
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Isso nós podemos perder, por conta própria. Mas ninguém tira.

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