Sujeito ético na terra do Q.I.


Recordo-me dos tempos de outrora, quando meus pais sempre diziam: "estude, meu filho! Estude para ser um grande homem e alcançar a realização dos seus sonhos. Somente com o contínuo esforço você conseguirá crescer na vida".
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Desde aqueles tempos aprendi a dar valor ao quociente intelectual. Aprendi que, para vencer, era necessário ser um homem de princípios éticos bem fundamentados. Aprendi que a recompensa viria como fruto de grandes esforços.
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Estudei. Trabalhei. Procurei agir corretamente. Graduei-me. Tenciono a Pós-Graduação. Mas não é este Q.I. que está me trazendo realizações. Quanto mais busco, mais obstáculos surgem.
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Doutro modo, estou cercado de indicações. Pessoas as quais, sem o mínimo esforço, conseguem o que sonho e batalho há anos.
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O que está acontecendo aqui? Sou eu quem está errado, nesta vida que mais parece uma novela? As oportunidades são inversamente proporcionais à capacidade conquistada e a vontade de alcançá-las.
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Nos reality shows, o sucesso bate à porta de quem já é conhecido de alguma forma. O quociente intelectual não conta. Vale mesmo é a opinião de quem indica.
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O esforço de fato (quase) nunca é reconhecido. A batalha não conta. O que vale são os fins, independente dos meios. O governo pleiteia cotas universitárias para quem - pela visão deles - não é capaz de conseguí-las pelos próprios méritos. Tudo em favor de uma remissão de pecados passados, os quais não são revistos pela base, mas nas conseqüências.
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E assim hoje continuamos, promovendo quem não dá a mínima pelas instituições das quais fazem parte. Não criamos nelas o senso de pertença, de valor real, de luta.
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Talvez por isso não haja mais ideologias pelas quais lutar. Passou-se o tempo no qual elas eram como algo imprescindível à vida.
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"Ideologia: eu quero uma pra viver". Ao final das contas, é mais fácil vender-se em troca do que se pleiteia.
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Acredito ter nascido em época errada. Meus pais também nasceram. Talvez, naquela época, o esforço da caminhada longínqua e árdua de fato tivesse o valor de uma vida. Ao contrário de agora, sentados em poltronas reclináveis, basta-nos um telefonema.

Lar, doce(?) lar!


Certa vez ouvi uma história da qual me recordo bem o conteúdo até hoje. Era sobre uma senhora de idade, cujos dias passava a maior parte sentada no banco da praça principal da cidade, por onde tanto quem chegava quanto quem de lá saía, sempre passava.
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E sempre chegavam pessoas até ela, perguntando-lhe como era residir naquela cidade. Geralmente, quem desejava alí morar, lhe fazia esta indagação. Afinal, uma senhora que passava seus dias no ponto principal do lugar, certamente conhecia a todos e cada um.
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Antes de responder, a sábia senhora perguntava aos forasteiros como era o lugar de onde vinham.
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- Horrível! Graças a Deus estou saindo de lá. Muita inveja, fofoca e um povo arrogante, mesquinho. Quero que todos de lá se danem!
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A respostas como esta, a senhora replicava:
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- Hum, então esta cidade não é lugar para você. Aqui tem os mesmos problemas, e até piores!
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Isso fazia com que os viandantes desistissem de ali firmarem moradia. Mas havia também aqueles os quais respondiam de outra forma:
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- Tenho dó de ter saído de lá. Fiz muitas amizades e deixei boas marcas. Se saio, o faço sem escolhas, e de coração condoído. Minha vida está lá!
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- Não se preocupe - respondia a senhora. Aqui a vida é ótima, as pessoas pacatas, e muito acolhedoras. Em pouco tempo se sentirá em casa.
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Esta história se fez presente em minha mente enquanto estava eu sentado aqui, diante do computador, e ouvi um grupo de padres, aqui no seminário, cantando antes do jantar. Por vezes, parece que o local onde estamos, seja ele qual for, não é compatível com nosso modo de ser. As pessoas ora parecem amargas, sem entrosamento, impassíveis de uma aproximação. A vontade de se afastar desses locais torna-se grande. Mas em outros momentos temos diante de nós certas pessoas que fazem com que tudo valha a pena. Nos fazem entender que, de fato, o ambiente onde estamos, não é construído pelos outros, mas única e exclusivamente pelo nosso próprio modo de agir e pensar. Se o local onde estamos não é por nós considerado como bom e aconchegante, dificilmente faremos com que o seja. Mas, do contrário, se apesar das diferenças - e de fato, ninguém é igual- pretendermos mostrar-nos como somos, e abrirmos caminho para diálogo e convivência, qualquer lugar, por mais longínqüo que seja de nossa realidade e gosto, poderá ser chamado de lar.
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O lar não é o lugar que nos faz sentir bem por sí próprio. O lar é o ambiente - tanto interno quanto externo - o qual damos nossa cara, fazendo-o tornar-se agradável a nós, por nossa conta. Ele não é algo que esteja fora, mas sim aquilo de nós que podemos levar para onde quer que formos.
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Isso nós podemos perder, por conta própria. Mas ninguém tira.

Sobre o que escrever?


Todo cronista que se preze já passou por aqueles dias de cão, quando se tem uma vontade mórbida de escrever sobre algo, mas nenhum tema lhe parece agradável.
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Não que eu tenha a pretensão de ser considerado um bom cronista. Não o sou. Mas o fato é que quero escrever. Porém, não encontro tema.
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Poderia falar sobre os detalhes dos caminhos que percorri nesta manhã quando fui à padaria. Detalhes os quais passam desapercebidos pelos olhares incautos dos que pelo mesmo caminho fazem seu trajeto. Mas não fui à padaria nesta manhã. Sequer saí de casa.
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Os programas de férias na TV? Não. Esses conseguem deixar-me completamente desestimulado. Sem um pingo de conteúdo proveitoso, não merecem a tinta da caneta. Nem mesmo os telejornais. Deixe os mortos cuidarem de seus mortos. O importante é fazer o possível em vida.
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É bom escrever. Mesmo sem conteúdo propriamente dito, brincar com as palavras, desenhá-las, dando conteúdo ao texto e forma ao informe me é bastante agradável. Dar significado aos signos e tinta ao branco do papel. É quase comparável a dar um sentido para o próprio dia - ou para a própria vida. É como ser um Budista e entregar-se ao Nirvana, ou como ser Cristão e encontrar na fração, o Inteiro - Em ambos os casos, o intocável tornando-se sensível num átimo.
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Talvez este nada que tanto me importuna seja o melhor para ser desvendado e escrito. Afinal, são nos espaços em branco onde continuamos a brincar de ser criadores da concretude.

Tudo novo. Nada denovo


Há quase exatos quatro anos, tive a alegria de conhecer o trabalho literário de Fábio de Melo.

Suas músicas, assim como o restante de sua literatura, cantam a ligação intrínseca entre o imanente e o transcendente. Para ele, "o que é humano está muito bem quando misturado no que é divino". Sua concepção acerca da vida [no plenamente "humano"] é caracterizada pela harmonia existente entre os contrários presentes no mundo, os quais nos ajudam a compreender que só é feliz aquele que já experimentou a infelicidade; só acerta quem já passou pela experiência dos erros. E quando nas contínuas tentativas de acertar, os erros começaram a se sobressair, faz-se necessário a experiência do começar de novo, do virar a página.

Tudo novo. Nada denovo. Sobre aquilo que já passou, não se pode fazer mais nada. E o amanhã, só a Deus pertence. O que podemos fazer é aproveitar e construir novos degraus na escada da vida. Afinal, os degraus, por mais parecidos que possam ser, nunca são iguais aos que já foram deixados para trás. A experiência do novo é sempre presente.

Presente [dádiva] do presente [tempo].

O passado tem muitos erros que impedem a vida no hoje. Preocupar-se é permitir que tais erros tornem-se atuais, fechando visão do agora, encerrando as possibilidades do futuro. É sempre tempo de recomeçar. Tudo novo. Nada denovo.

Não esteve bem até agora? "Vire a página!"

Prognóstico da Contemporaneidade


No livro "O Homem Moderno", Enrique Rojas detalha as características do homem construído sobre as bases das mudanças as quais a modernidade trouxe para o mundo. Um homem plástico, "versátil", o qual pretende ver os projetos de seus desejos realizados prontamente.
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Este desejo age com aquele insight raptando nossa mente, dando-nos a sensação de ter descoberto as Américas.
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Talvez isso se dê pelo fato de a cultua Contemporânea, carregando consigo as "conquistas" da Modernidade, roubar de nós aquele gosto pela caminhada, de preparar o próximo passo nos mínimos detalhes. Ao contrário, essa mesma cultura deseja pular etapas, com a idéia de devermos nos prontificar para qualquer tarefa que se apresente.
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Ao discorrer este texto, recordo-me de fases de minha vida, quando imaginava estar pronto para avançar os níveis nos quais estava imerso. Sempre ouvia a frase "isto é queimar etapa" por parte de meu superior.
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Aquilo me deixava furioso. Repetia a frase supracitada, sozinho, entre quatro paredes, com ar zombeteiro. Afinal, eu já me sentia pronto para fazer o que propunha.
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Estava. No sentido prático, com relação a conhecimento e capacidade de desempenhar uma determinada função ou expressar alguma idéia. Tal como uma máquina em uma central de montagens desempenha precisamente o seu papel, mas sem a mínima noção sobre o que aquilo poderá trazer futuramente.
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Eu até sabia o que as referidas ações poderiam trazer de concreto no presente, nas horas subsequentes aos fatos. Mas não tinha a mínima noção sobre o que poderiam acrecentar-me enquanto pessoa humana.
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Agir é fácil. Pensar e refletir tais ações, é difícil. Sobretudo quando se trata de pensá-la antes de praticá-la. Não digo no sentido de premeditar, preparar, organizar, mas sim no sentido de colocar-se, no presente, diante de uma situação futura imaginária, na qual estariam presentes somente as consequências desta ação. Consequências essas que visem tão somente o bem estar da pessoa enquanto pessoa. Afinal, estamos justamente no ápice de uma era a qual tenciona responder às nossas questões através da materialidade do possuir. E como tudo que chega ao ápice, tende ao declínio, é inevitável o surgimento de uma nova proposta ideológica.
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Em Filosofia, saímos do racionalismo cartesiano e dos transcendentais kantianos para entrarmos em uma tentativa de resposta através da linguagem. Esta linguagem, ao que pretendo, deve levar a consciência humana a um patamar pretendido por Nietzche: aquele que leva o homem a pretender a superioridade, ao "além do humano". Uma superioridade no sentido de não necessitar de coisas externas a si para alcançar a uma completude, mas sim de conhecer a si próprio naquilo que é capaz de expressar.
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Penso que a partir do momento em que alguém conhece a si próprio, sem temer novos caminhos, sem temer desbravar novos horizontes em cada pequeno movimento, saboreando o momento, partindo do que se possui no tempo presente, este mesmo alguém terá descoberto em si mesmo (e não em outras vias, como quer hoje) a razão de sua existência.

Virtudes e limites do viver


Viver é um dom. Viver bem é uma arte. Por "viver bem", entendo o uso das fórmulas que fazem da vida algo bom e belo, tanto a mim quanto àqueles com os quais convivo.
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Produzir o bom e belo é difícil. Requer um conhecimento profundo de si mesmo. Demanda ser senhor de si, de suas escolhas e atitudes. Exige simplicidade em todos os aspectos do agir. A simplicidade de ser é a mãe dos elementos do bem-viver.
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Mas o que compreende ser simples? Significa talvez aceitar a própria condição humana da qual somos compostos; condição de virtudes e limites, de graça e pecado, de divino e humano, pois somos seres "híbridos", se é possível usar este termo em nossa condição humana. Hibridez denota possuir diversos componentes em si, até mesmo antagônicos. Conviver de forma harmoniosa com tais elementos é um esforço interminável.
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É sobretudo na viência e compreensão de nossos limites que alcançamos a graça de nos tornar quem somos: seres de busca, de caminhada. É na certeza de nada sabermos onde está a fome pelo saber. São nos limites onde estão os desejos pela virtude. É onde se encontra o pecado que habita a graça. É no ser plenamente humano onde conhecemos o divino existente em nós.
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Hoje, só hoje, seja-me concedida a graça de ser virtuoso. Buscar o justo meio, o equilíbrio de minhas atitudes, de caminhar sem cessar, sem vacilar, e deixar pelo caminho somente o bem que há em mim.

Tempo de cultivar


O final sempre traz consigo certas expectativas. Traz também o desejo pelo novo. Tempo de novos planos, outros projetos. Corremos o risco de esquecer o que está no hoje, para planejar o futuro; ou então firmarmo-nos exageradamente nos problemas de hoje, e não ter a visão de futuro.
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A utopia nos maravilha. o que não está ao nosso alcance, é sempre mais belo, mais atrativo. Quantas coisas hoje não possuo, mas desejaria ter. A sensação universal de "comigo é mais difícil" também se apresenta a mim.
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A partir destes dois pontos, o priorizar e o desejar, percebo que os erros, as faltas estão de fato em mim. Pego-me profundamente preocupado e priorizando coisas que deveriam ser secundárias.
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Se desejamos mudar algo, devemos começar pelo possível, em nós mesmos. Um bom início seria igulalar as prioridades de satisfação entre corpo e alma: selecionar cinco atividades que elevem a cada um, e praticá-los diariamente, à risca.
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Talvez nossos erros estejam em fazer as coisas certas em tempos errados. há um tempo para cada coisa abaixo do céu. Entrando em sintonia com nossos tempos, pensamentos e afazeres, libertamo-nos daquelas coisas que nos escravizam e conseguimos, mesmo que a longo prazo, aquilo que desejamos.
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O que é passado, já se foi. Cabe a nós aceitar o hoje, nosso "presente". A cada dia recebemos novos dons, novas ferramentas, novas idéias. O futuro só depende da forma como aproveito, utilizo e cultivo meus dons. A vida que Deus deu a mim só pode por mim ser cultivada. Devo plantar meu jardim no hoje, para colher de seus frutos amanhã.
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Meu presente e meu futuro em minhas mãos. Simples assim!

O medo e o meu eu


No processo da vida, deparo-me com diversos caminhos, muitas vias. As possibilidades são tantas, e igualmente muitas são as chances de errar e cair. Diante delas, surge um medo que assola meu ser e faz com que eu entre em um profundo questionamento, e infinitas perguntas se mostram: "E se eu errar?" "E se cair?" "Se entrar em alguma via a qual não me levará a meu fim, mas antes fará com que eu me perca em um labirinto de obscuridades?" "E se, me perdendo, não conseguir ao menos encontrar o caminho de volta?"
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Uma vez que eu hospede o medo, e não lhe imponha limites, este não mais requisitará minha confiança; me roubará de mim mesmo, e lançará meu eu em um mar de dúvidas, de incertezas.
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O medo é traiçoeiro, multiforme. Disfarça-se facilmente naquelas coisas que mais considero naturais, por serem inerentes ao ser humano, quer seja em meus relacionamentos, quer nos próprios questionamentos os quais diariamente me proponho, com a finalidade de continuar à busca do caminho que me conduza ao meu horizonte.
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Questionar é preciso, é necessário. Uma vida de afirmações disfarçadas em inquestionadas certezas, certamente cairá em ruinas, e qual desastre será!
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O que acontece em mim cada vez que me questiono? Construo novas e mais fortes bases, que sustentam aquilo que há de mais precioso em mim: minha liberdade. Liberdade que não me rouba de mim, mas cada vez mais leva-me ao mais profundo do que sou. Lá, neste profundo, extasiado, coloco-me face-a-face àquelas questões as quais mais me perturbam, entrando em diálogo: "por que me condenas? Por qual motivo me roubas de mim?"
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Uma vez questionado, com um verdadeiro desejo pela verdade, o medo se esvai, se desvanece, pois é incisivo e dogmático mas, confrontado, não possui forças para sustentar-se.
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Penso que, caso não me pusesse em confronto com estas questões, seria como um sepulcro caiado: aparentando beleza e vigor externamente, e profundamente corrompido por dentro.
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Assim vou vivendo, sendo cada vez mais livre, mais dono de mim. Sem culpas. Sem medos.

O homem de um só pensamento


Na lógica da contemporaneidade (a da velocidade), da rapidez com que as informações nos chegam, dos resumos obtidos para se ter uma noção do geral, perdemos aquela construção necessária para a formação do nosso eu. Quando nos atemos ao básico de um todo, perdemos a visão justamente deste todo. Por isso temo o homem de um só pensamento. Este busca os resumos, e não a completude; busca as respostas, e não os questionamentos. Faz sua própria e inquestionável interpretação acerca daquilo que se lhe apresenta. Firma-se em uma idéia fixa de alguém, considerando-a única, verdadeira, indissolúvel, incorruptível. Fecha-se a outras idéias. Fecha-se, ainda que inconscientemente, ao outro.
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Quanto mais busco aprofundar-me naquilo que não sei, mais torno-me consciente de minha ignorância, e mais desejo saber. Quanto mais aprofundo-me em um pensamento, mais me conscientizo de que a idéia antes formada acerca deste, estava incompleta. Isto porque ainda não eram por mim conhecidos outros termos, conceitos, idéias e formas de pensar. Quanto mais conheço novos termos e seus respectivos significados, mais os percebo se encaixando e completando vários outros conhecimentos antes adquiridos por mim. A partir destes momentos vejo o quão valorosa é a busca pelo real significado daquilo que chega às nossas percepções.Refletir sobre os significados adquiridos pelos termos em nosso ser é algo de suma importância. Ao discursar sobre algo, posso ter em mente uma série de símbolos e significados mas, quando estas palavras chegam à outras consciências, podem percorrer outros caminhos, vestir novas roupagens, adquirir outras formas.
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Isto porque a construção lingüística depende de todo um percurso já traçado por nossa subjetividade. Temos, em nosso intelecto, como que uma "caixa preta", onde ali são armazenadas todas as informações captadas e abstraídas de nosso quotidiano, desde quando nascemos. Se estes conteúdos não são pareados a outros, de outras consciências, confrontados de forma a buscar uma síntese eterna que vise sua completude, perdemos a nós mesmos. Perdemos o outro e perdemos aquilo que devemos respeitar, porque nos une: nossa história e nossa língua.
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Se em todo processo pelo qual a humanidade passou, foram construídas novas formas de pensar, sempre erguidas sobre outras, anteriormente propostas, por que hoje nos fechamos em nossos conceitos, em nossas formas de raciocinar? Por que tememos ser confrontados pela idéia do outro? Ou pior, por que ignoramos esta mesma idéia que o outro tem a nos oferecer? O que teríamos a perder, caso a assimilássemos? não teríamos muito mais a ganhar? Assumindo a Teoria do caos (o qual afirma que um mínimo movimento/mudança, interligado a outros, causa efeitos que antes não poderiam ser previstos e estes efeitos, em sí, não existiriam se não dependessem de cada mínimo movimento), da mesma forma acontece com o nosso CONHECER.
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Cada mínimo movimento gerado em nossa consciência pode ligar-se a outros fatores antes já elencados e abstraídos, tornando-os mais inteligíveis, proporcionando a ligação destes a outros fatores que em cada átimo surgem ao nosso redor. Cada ínfimo pensamento, cada palavra bem refletida e bem dita pode causar uma revolução não só em nosso intelecto, mas em toda a estrutura de idéias e ideais na qual estamos inseridos.
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Assim, uma vez despojado de minhas certezas e colocando minha consciência em contato com o mundo, torno-me senhor de minha vida e história; deixo de ser um-no-mundo para ser um-com-o-mundo e torno-me capaz de mudar não só a minha vida, mas todo o curso de uma história. Mudança que depende de mim, de toda construção que faço, e de cada construção que o outro faz.
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Temo o prisioneiro de suas certezas; Este permanece sempre igual ao que sempre foi. Admiro o homem de abertura, pois é capaz de aceitar novas idéias e reconhecer novos horizontes. Sigo o homem livre, pois é senhor de si e de suas escolhas, e está em constante desenvolvimento.

Inferências e afetações


Nossa! ter a própria vida nas mãos é libertador. Pouco ou nada se importar com o que pensam os outros a seu respeito, ajuda a colocar caminhos, objetivos, metas em ordem. Afinal, quem cuida de mim, sou eu! Pouco importa se o outro está se afastando, criando muros ao invés de pontes. Meu coração está aberto. A quem quiser se achegar, acolherei com imenso carinho.
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Para que perder a paz com a fala alheia? Se ela induz a uma reflexão, e há entre linhas certas ambigüidades, cabe a mim aceitá-las e ver qual das leituras a mim se encaixa. Só perco a paz caso o lado negativo afetar me de alguma forma.
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Será que afeta? O que afeta? O que poderia tirar meu sossego, minha tranqüilidade? Certamente só aquilo com o qual não quis ainda ter contato.
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Apesar de o fim de um período trazer consigo diversos questionamentos e cansaços, traz também a oportunidade de refletir sobre toda uma trajetória já percorrida. Traz também a oportunidade de se pensar no terreno sobre o qual se está pisando, e construir a possibilidade do amanhã.
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Planos, só são bem feitos na calma, na paz, no sossego. Tenho experimentado esta paz, este sossego, em meio a tantas coisas que gritam ao meu redor. Sossego interior. Este ninguém tira. Quietude do encontro de mim comigo mesmo.
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Deixo a vida prosseguir. Caminho por suas estradas. Nelas me fermo. Observo. Infiro. Concluo. Vivo!

Dialética da arte de viver e de pensar


Pensar é uma arte. Uma arte difícil de ser praticada. Difícil de ser construída. Demanda vontade, tempo e persistência. Uma vez começado o percurso em torno do pensar, não há mais volta. E isto já dizia Albert Einstein, quando proferiu: "uma mente que se abre a uma nova idéia, jamais retorna ao seu tamanho original".
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Às vezes penso: seria melhor não ter começado a pensar. Agir de forma irracional talvez não nos deixasse tão angustiados. A angústia é uma característica inerente às obras que começamos com o nosso pensar.
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Angústia: sentimento de que algo nos incomoda, nos rodeia, nos perpassa. E é assim como me sinto ao pensar. Não há algo em específico, o qual me faz sentir angustiado. Sinto-me assim em relação a tudo: desde o mais ínfimo que há no mundo, até a Supremacia do Criador.Talvez porque me sinta só. Só comigo. Só com o mundo. Só com minha família. Só com Deus. Não posso e nem quero caracterizar qualitativamente este sentimento. Não quero dizer se é bom ou mau, pois em si, há seus momentos. Há a solidão na multidão; estar ao lado de muitos, e sentir-se com ninguém. Há a solidão de estar-se realmente sozinho. Bem vivida, é fonte de crescimento, de conhecimento de si mesmo.
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Mas por quê me sinto só? Talvez seja por não encontrar alguém com quem possa partilhar idéias. A forma que penso não é característica deste tempo. Já é passada. Quem sabe chegue, em um futuro distante, a ser retomada? Penso de uma forma "altérica", se posso dizer assim. "Altérica", de "alter", "outro". Hoje percebo que não há mais uma visão de "outro" como componente fundamental na vivência subjetiva de cada um. Talvez não haja mesmo uma subjetividade neste mundo. Subjetividade no sentido de cada um estar em contato consigo mesmo, com suas idéias e ideais, metas e propostas. Se não há um encontro de si consigo mesmo, não pode haver tampouco uma inter-subjetividade. Perdidos estes componentes fundantes de nossa existência e vivência (eu-comigo e eu-com-o-outro), perdemos rumo e direção.Talvez seja isto que me incomode. Talvez as músicas atuais reflitam mesmo o sentimento em voga: "cada um no seu quadrado"; cada um prisioneiro de seu próprio mundo, sem importar-se com o que há lá fora.
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E a partir disso começo a questionar se ainda somos o justo meio entre o "tudo" e o "nada". Percebo nossa busca diária pelo nada, pelo vazio. Preenchemo-nos dele e com ele nos sentimos satisfeitos. Por quê negamos tanto o "tudo"? Por quê não almejamos mais sermos super-homens, como pretendia Nietzsche? À estes questionamentos, surgirão respostas. Tardias, mas respostas. Talvez não hoje, nem na próxima década, mas será necessário o seu encontro. Porque a vida é assim: dialética, processual. Uma história de encontros e desencontros onde construimos teses, antíteses e sínteses de nosso caminhar. Espero que nossas futuras antíteses e sínteses para as atuais teses, sejam as que nos conduzam a caminhos de plenitude, desenvolvimento. Não a um desenvolvimento como o de hoje, pragmático, mas sobretudo humanizante.

Conhecimento e sabedoria


"A ironia é própria do intelecto apurado". Esta foi a primeira frase captada pelos meus ouvidos, quando entrei na classe de Filosofia Contemporânea. O mestre explicava sobre um certo acontecimento, quando da sua época de graduando.
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Imediatamente uma série de imagens saíram de suas respectivas gavetas, em minha memória, fazendo-me recordar fatos e feitos onde tencionava, eu, expandir meus horizontes intelectuais.
Não que não queira, ainda hoje, expandí-los. Só não mais ponho isto como prioridade em minha vida. Ao menos não neste momento.
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A frase primacitada foi como uma chave a abrir estas gavetas. Encaixou-se perfeitamente. E as imagens refletiam meus momentos de superioridade, nos quais alcançava o topo do prestígio escolar. Ser exaltado, elogiado pelos mestres era como igualar-me a eles. Sensação predominante de uma capacidade de poder dominar o mundo.
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Ao estar prestes a graduar-me, considero isso tudo, essa tal vaidade intelectual como um lixo, uma perda. Como tal, armazena-se em nós, apodrecendo e fazendo-nos apodrecer.
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Como algo tão intocável - o intelecto -, pode fazer de nós tão mesquinhos, quando mal cuidado? Afinal, parece sabermos muito. Isso quando nos comparamos unicamente a nós mesmos. Mas, e diante do Universo, qual o valor daquilo que imaginamos conhecer?
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Nada mais fazemos do que pensar o que já foi pensdo. Novidade? "Nihil sub sole novum". O que pensavamos ser inédito, não passa de simples ligações, conexões de simples fatos, releituras de eventos, "insights". Somente temos a sorte de pensar a coisa certa em seu momento certo.
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É como termos, diante de nós, vários quebra-cabeças. Fatos elencados, concatenados, encaixados, mas separados entre si. O conhecimento é como encaixar estes fatos, e torná-los assimiláveis. Um processo semelhante ao dialético, onde teses, relacionadas às suas respectivas antíteses, geram sínteses. Sínteses. Nada mais do que releituras daquilo que já estava às mãos.
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Afinal, filosofar nada mais é do que pensar o mais absurdo, o mais simples, mas de uma forma com a qual os mais soberbos, em sua vaidade, jamais pensariam.
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O único problema está no fato de o filosofar trazer consigo esta mesma possibilidade de soberba, de vaidade.
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O sábio reconhece o húmus que é o seu pensar, sabendo que nada é, e nada pode ser. O filósofo vaidoso, no entando, tudo pode ser. Menos sábio.

Conhecer a si ou saber de si?


Quando Sócrates disse "conhece-te a ti mesmo", certamente não tinha a mínima noção do quão difícil é. A própria atitude de tentar conhecer algo, é laboriosa. Talvez seja por isso que saber, sabor e labor tenham as mesmas raízes etimológicas. Não basta só conhecer, é preciso saber sobre si mesmo. Conhecer é uma atitude objetiva, estática. Coloco-me diante de mim para ser desvendado. Mesmo que conseguisse conhecer a mim mesmo, ainda faltaria saber sobre mim. Saber exige consciência sobre o que fazer daquilo sobre o que se sabe.
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Sendo difícil conhecer a mim mesmo, como poderia eu pretender conhecer ao outro? Posso, sim, caminhar com ele, oferecer meus ombros e meus ouvidos, mas caso soubesse sobre a minha própria essência, teria eu a liberdade de tencionar que minha vida fosse uma receita para a sua? Não seria esta atitude um assassinato à sua subjetividade?
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Ser simples na sabedoria é mais difícil do que o próprio saber. Quanto mais tenho, mais quero.
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Quanto mais possuo, mais me afasto da simplicidade. Mostrar quem se é, usando de simplicidade, é uma tarefa árdua. Precisa uma mínima noção de como esse mostrar-se será acolhido pelo outro.
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Desvelar-se ao outro é como pretender colocar-se diante de um espelho. Este simplesmente refletirá o seu externo. Nunca terá a mínima noção do que acontece no interno.
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Deixa estar quem não consegue conhecer-me. Quero é Aquele que sabe de mim.

Amor e companheirismo


O homem voltava para casa após uma longa jornada laboriosa. Pensava no sentido de sua existência, sem conseguir raciocinar tranqüilamente pois, junto ao movimento do ônibus, também era incomodado pelo empurra-empurra das pessoas ao seu redor, as quais procuravam acomodar-se de qualquer forma.
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Refletia sobre aquela vida enfadonha e sem rumo, a qual não podia passar sequer um dia sem aborrecimentos e frustrações. Desejava "chutar-o-balde" e abandonar tudo de vez; fugir para um local onde ninguém o conhecesse, começar uma vida nova, alimentando-se do fruto produzido por si próprio, sem preocupar-se com a parte de seu salário retida para o sustento de alguma empresa.
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Ao chegar em casa, não notou a mulher o abraçando carinhosamente, esboçando um sorriso daqueles verdadeiros, somente expressados por pessoas íntimas do amor. Ela preparou-lhe e serviu-lhe a comida, mas mesmo assim ele continuava com o olhar distante, como quem não sabe como resolver um problema, ambicionando a qualquer custo a solução.
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É neste momento em que surge sua filha, do nada, com aquele ar meigo de um anjo. Sentou-se em seu colo, sendo recebida não com aquele ar amoroso próprio de um verdadeiro pai. Afinal, ele estava concentrado na saída para que seu ego pudesse satisfazer-se.
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O homem pensou em descer a filha do colo, e pedir-lhe que não o incomodasse. Quando já abria os lábios para dizer-lhe algumas ásperas palavras, estas foram impedidas por um abraço carinhoso, onde a garotinha dizia do amor sentido para com ele, e mesmo que ele não pudesse estar todos os momentos do dia com ela e sua mãe, ela pensava nele durante todo o transcorrer do dia; e quando batia aquela saudade, que não podia ir embora com uma ligação para seu serviço, expressando-lhe de longe o carinho, ela escrevia algumas cartas, desenhando e dando cor à ternura expressada em poucas linhas no papel. Desceu então do colo do pai, às pressas, foi correndo ao quarto e buscou algumas folhas dobradas e inseridas em um envelope, entregando posteriormente ao pai.
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Ele, já com os olhos úmidos e lábios trêmulos, diminuído a um grão de pó pela mesquinhez com que pensara em abandonar tudo e seguir sua própria vida, pegou levemente o papel, como alguém querendo pedir perdão sem encontrar as palavras após brigar sem razão. Viu logo no envelope algumas palavras carinhosas, circundadas por vários corações coloridos com esmero. Quase podia sentir pelo tato o amor empregado naquelas mal traçadas. Esqueceu-se por um momento da ira que o acompanhava durante o trabalho. Abraçou a filha, chamando também a esposa. Deu-lhe também um beijo, proferindo algumas palavras delicadas, sem preocupar-se em esconder as lágrimas teimosas por rolar de seu rosto.
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Finalmente entendeu que ninguém caminha sozinho na vida e, por mais que tudo pareça estar perdido, sempre há uma oportunidade de recomeçar. Basta simplesmente perceber aqueles ao nosso redor, nos amando, impulsionando, e exteriorizando estes sentimentos em gestos inexprimíveis em forma verbal, mas inteiramente reconhecidos pela nossa alma, e tudo volta ao normal.

Águas da vida


Tenho pensado muito em água. Sim, água: elemento físico, químico, composto de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Aquele provérbio sobre a "sabedoria da água", que não discute com seus obstáculos, mas os contorna, esteve em minha mente durante toda a semana transcorrida.
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Talvez seja por compreender um pouco sobre a vida e suas vicissitudes. Tudo está em constante mudança, em um vai-e-vém sem fim. As águas vão e voltam. Evaporam para um dia cairem novamente, já mudadas. Não serão as mesmas que antes evaporaram. "Compreenderam" a necessidade de sair de um ambiente, sair do campo visível; Querem "ver" as coisas sob um outro ângulo, do alto, e uma outra vez retornarem, cumprindo novamente seu papel. Agora já refeitas, purificadas, renovadas.
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Assim tenho me sentido: experimentando uma certa quietude interior. Um silêncio fértil do qual não quero sair agora. Experimento um "quê" de imparcialidade na forma de pensar, apesar de não abrir mão de várias crenças. Talvez por nelas ver algo que priorize a liberdade de escolha. Da própria, pessoal, subjetiva escolha.
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Silêncio do evaporar-se para compreender meu sentido, meu papel...
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Seize the day. Carpe diem. Aproveite o dia. O hoje tem tantas coisas boas para serem vividas, descobertas. Tantas águas para correr. Tantos rios e tantos encontros...
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Quero ser água. Mas água corrente. Quero não parar diante dos obstáculos, mas contorná-los, com a ajuda de outras águas. Água que corre, gera paz, gera vida, promove movimento e dá beleza por onde passa.
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Água parada quer ver-se livre dos obstáculos; discute com eles, e por eles fica presa. Apodrece. Morre, e deixa a vida morrer.
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E você, que tipo de água tem sido hoje?

A riqueza da simplicidade


Uma das características desta geração é não aceitar a própria capacidade. Cada um tem o dom que lhe compete, segundo seus gostos e desejos. Para cada dom, suas respectivas ferramentas e capacidades.
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Porém, vejo-me afoito. Pretendendo abarcar o mundo com os braços, como quem pretende colocar toda a água do mar em um pequeno buraco na areia da praia, feito com o dedo. O ilimitado me surpreende, me fascina. Por vezes penso ter a capacidade de aprender e apreender qualquer coisa. Por outras, deparo-me com pequenas críticas, ironias que tencionam desmotivar-me e exaltar meus defeitos.
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Deus então coloca pessoas pelo caminho, as quais vêem minhas inquietudes e amarezas, e propõem questionamentos e tarefas, tais como "quem tu és?" e "torna-te quem tu és".
Tornar-se quem se é pressupõe aceitar os próprios limites. Quando tento subir mais degraus do que minha perna pode alcançar, atropelo meu tempo; atropelo as pessoas que me amam e querem acompanhar-me.
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Se até mesmo os grandes deuses das mitologias tinham seus limites, seus cuidados, que se dirá de mim, limitado humano?
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Humano, demasiado humano...
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A partir de minhas "estripulias", ou das vezes que penso tudo poder saber ou querer, Deus se mostra em sua simplicidade, num rosto de criança e diz: "calma! Uma coisa de cada vez. Eu poderia ter feito o mundo só com a força de meu querer, em um átimo, mas preferi pensar cada coisa a seu lugar, a seu tempo, a seu modo. Poderia ter ajudado meu povo com simples ações imediatas; ao contrário, preferi caminhar e mostrar que o poder a mim pertence, mas cada um tem a força que lhe é necessária. Poderia não ter deixado o homem se desviar mas, dando-lhe livre arbítrio e vendo que tende a se afastar e cair, fiz-me também humano, e mostrei que na fraqueza é que se conhece a força possuída".
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Se Ele, do qual acima nada há, se mostra simples em todos os aspectos, por que ainda ignoro a simplicidade que há em mim? Por que ignoro as ferramentas que me competem? Por que desejo ser mais do que sou, se na simplicidade é que se pode conhecer a verdadeira riqueza, verdadeira totalidade? Se Ele só põe à prova a quem quer aprovar, por que ainda tenho medo?
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Se Ele caminha comigo, Preciso de algo mais?

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